sábado, 1 de novembro de 2014

Eu também tenho o direito de chamar atenção

Desde pequena assisto programas de TV nacionais que falam sobre tudo, inclusive moda. Nos programas, quando o assunto é maquiagem sempre tem o tema batom vermelho, são escolhidas 3 modelos e o tema é divido em, batom vermelho para brancas, morenas (leia-se mulher branca com cabelo escuro) e negras. Bem, na maioria dos programas os especialistas começam com a morena, usam um vermelho aceso, algumas vezes puxado para o laranja para contrastar com a pele, depois vem a loira, que normalmente tem olhos claros (azul ou verde), o especialista começa a maquiagem, e no batom coloca um vermelho bem forte e sensual, para dar um ar poderoso e chamar a atenção. Chega à vez da negra, o especialista escolhe um batom vermelho quase marrom, ou um batom uva, porque por ela ter os lábios grossos irá chamar muita atenção, ou por ter a pele escura, vai chamar muita atenção, ou por ter o cabelo Black vai chamar muita atenção. 
Porque só é permitido a mulher branca chamar atenção?
Por que na branca o contraste é lindo, por que a branca pode e deve chamar a atenção, a negra não, a negra tem que ser invisível, não pode sair por aí chamando a atenção da sociedade, a sociedade não pode olhar para uma pessoa que não deveria existir, mas já que existe, ela deve permanecer quieta, não fazer movimentos bruscos, ser invisível.
Porque incomoda tanto a mulher negra ter uma auto-estima elevada?
Porque quando a mulher negra se arruma, se enfeita, sorri, ela esta lembrando ao mundo que ela existe, e que vai continuar existindo, apesar de tentarem a destruir todos os dias.


Você pode me riscar da História
Com mentiras lançadas ao ar.
Pode me jogar contra o chão de terra,
Mas ainda assim, como a poeira, eu vou me levantar.

Minha presença o incomoda?
Por que meu brilho o intimida?
Porque eu caminho como quem possui
Riquezas dignas do grego Midas.

Como a lua e como o sol no céu,
Com a certeza da onda no mar,
Como a esperança emergindo na desgraça,
Assim eu vou me levantar.

Você não queria me ver quebrada?
Cabeça curvada e olhos para o chão?
Ombros caídos como as lágrimas,
Minh’alma enfraquecida pela solidão?

Meu orgulho o ofende?
Tenho certeza que sim
Porque eu rio como quem possui
Ouros escondidos em mim.

Pode me atirar palavras afiadas,
Dilacerar-me com seu olhar,
Você pode me matar em nome do ódio,
Mas ainda assim, como o ar, eu vou me levantar.

Minha sensualidade incomoda?
Será que você se pergunta
Porquê eu danço como se tivesse
Um diamante onde as coxas se juntam?

Da favela, da humilhação imposta pela cor
Eu me levanto
De um passado enraizado na dor
Eu me levanto
Sou um oceano negro, profundo na fé,
Crescendo e expandindo-se como a maré.
Deixando para trás noites de terror e atrocidade
Eu me levanto
Em direção a um novo dia de intensa claridade
Eu me levanto
Trazendo comigo o dom de meus antepassados,
Eu carrego o sonho e a esperança do homem escravizado.
E assim, eu me levanto
Eu me levanto
Eu me levanto.


Still I Rise, Maya Angelou

Tradução de Mauro Catopodis 


Beijos
xoxo