Vim falar sobre um filme que me emocionou muito 12 anos de escravidão (Twelve years a slave).
O filme mostra a perspectiva de Solomon Northup, um homem
negro e livre que em 1841 é vendido como escravo, que é interpretado
maravilhosamente por Chiwetel Ejiofor.
As primeiras cenas quase não têm diálogos, mas conseguimos
captar as emoções pela atuação de Chiwetel Ejiofor, pela trilha sonora de Hans
Zimmer (Batman Begins; Piratas do Caribe; O Homem de Aço; Rush - No Limite da
Emoção) e pela direção de Steve McQueen que hora nos mostra cenas frias e sem
cores e outra hora nos mostra cenas de paisagens coloridas.
Uma das escolhas de McQueen foi a não valorização da violência, que por vezes anestesia o expectador,
há violência, mas é diferente de outros filmes de escravidão que o foco é o
chicote nas costas e não os sentimentos dos escravos. Uma cena que mostra bem
essa escolha do diretor é primeira cena de violência recebida por Solomon que
só conseguimos ver o impacto do ocorrido pela camisa rasgada e levemente suja
de sangue, ou a cena em que vemos duas escravas separando algodão no primeiro
plano e ao fundo vemos um negro ser castigado e escutamos seus gritos de dor.
Um dos acertos do filme é também mostrar todo o sistema da
escravidão, de quem faz o que até a folga nos domingos. Steve McQueen retrata
os escravizados como seres humanos, que tem sentimentos, que se envergonham, que
tem medo, que tem orgulho. Que sofrem sim com a perda da família. Que tem que
fazer coisas horríveis, humilhantes e até agradar quem os escraviza, para
sobreviver.
Uma das cenas que mais me emocionou foi o dialogo entre uma
escrava que perdeu os filhos e Solomon, que ao ser questionada de o porquê não
parava de chorar pelos seus filhos, já que o Mestre Ford (Benedict Cumberbatch)
era um homem tão bom, ela responde que o dono de escravos é bom enquanto os
escravos renderem, pois eles são gado, Solomon tenta debater dizendo que dada
as circunstâncias ele é um homem bom, e ela diz “dada as circunstancias ele
ainda é dono de escravos”. Muitas pessoas tentam até hoje defender os donos de
escravos falando que na época todo mundo tinha escravos e essa foi a melhor
resposta que eu já ouvi.
Muitas pessoas compararam esse filme com Django Livre de
Quentin Tarantino, que também é um filme muito bom, mas apesar de terem o mesmo
tema – escravidão – são filmes
diferentes, enquanto Django Livre mostra mais o lado fantástico, da vingança,
12 anos de escravidão mostra o lado mais humano, até mais triste. Porém, os dois tem uma cena
em comum, mas enquanto em Django Livre não houve consequências, em 12 anos o
castigo é aplicado de uma maneira ou de outra.
Vemos
em varias cenas o uso da bíblia, que era uma justificativa para a escravidão. E uma ótima escolha de Steve McQueen foi
valorizar a mulher nesse filme, principalmente as escravas, mostrando o quanto
elas sofriam com as perdas dos filhos até de como ser o objeto de desejo do
mestre também era uma coisa ruim – explicada em uma frase belíssima “uma visita
à noite ou uma visita com o chicote”, mostra também o ciúmes das esposas que
descontavam nas escravas.
Patsey (Lupita Nyong'o ) consegue ser não só a parte dramática
como a parte doce do filme, tão delicada, tão triste. Protagoniza uma cena tão
humilhante e sádica que fica na memória.
O filme coloca questões atuais, como a hiper sexualização da
mulher negra, e o manter a cabeça baixa para sobreviver (mas não queremos
sobreviver, queremos viver!).
Até a próxima!